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8 de junho

“Género e Oceanos”

 

Nos últimos dez anos, o Dia Mundial dos Oceanos tem-nos oferecido a oportunidade de sensibilizar o público para a importância dos nossos oceanos, e sublinhar a nossa responsabilidade individual e coletiva na utilização sustentável e na preservação do maior ecossistema do nosso planeta.

Os oceanos são um dos requisitos indispensáveis para a existência de vida na Terra. Fonte de água doce, produzem a metade do oxigénio que respiramos e exercem uma poderosa influência sobre o nosso clima. Ora, os oceanos estão ameaçados. O aquecimento climático, a acidificação, a poluição, as zonas mortas, a proliferação de algas nocivas e a degradação dos ecossistemas revelam a forma como a atividade humana tem impacto nos nossos oceanos.

De acordo com o primeiro Relatório de Avaliação Mundial sobre a Biodiversidade, elaborado pela Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES), lançado na UNESCO a 6 de maio, a poluição de plástico nos oceanos é um problema particularmente premente uma vez que foi multiplicada por dez, desde 1980. Os resíduos plásticos provocam, todos os anos, a morte de mais de um milhão de aves marinhas e 100 000 mamíferos marinhos.

Esta situação deveria impelir-nos à união em prol da preservação do nosso património ambiental comum. Deveria levar a humanidade a entender o quão importante é mantermos o Oceano são, do qual depende a nossa vida, assim como o clima, o nosso bem-estar e, mais que tudo, o nosso futuro. As ameaças que pesam sobre os oceanos exigem uma ação coletiva e urgente para inverter a tendência atual. Por este motivo, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Década das Nações Unidas para as Ciências Oceânicas ao serviço do Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), cuja preparação está a cargo da COI - Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO.

Esta Década visa promover a colaboração científica internacional, assim como a gestão sustentável dos nossos oceanos e das nossas zonas costeiras, através da interação entre as ciências e políticas diversas. Visa igualmente mobilizar os cidadãos de todas as culturas e de todos os povos, além das clivagens de género e de gerações, em prol da preservação dos oceanos, pois disso depende a sobrevivência da nossa espécie.

Como afirma Sylvia Earle, mulher pioneira no domínio das ciências oceânicas, temos que cuidar do Oceano - como se dele dependesse a nossa vida – porque de facto ela depende dele.

Temos que proporcionar a cada cidadão os meios para cuidar dos nossos oceanos, e permitir que todas as mulheres desempenhem um papel transformador e ambicioso na compreensão, exploração, proteção e gestão sustentável do Oceano. Por esse motivo, esta edição especial do Dia Mundial dos Oceanos faz a ligação entre os temas da igualdade de género e da preservação dos oceanos.

As mulheres participam em todos as vertentes da nossa interação com os oceanos, desde a pesca até à conservação; contudo, as suas vozes raramente são ouvidas ao nível da tomada de decisão.

Do domínio da indústria marítima ao das ciências oceânicas, a desigualdade de género persiste. O Relatório Mundial sobre a Ciência Oceânica da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO salienta que as mulheres representam apenas 38% de todos os cientistas nesta área. As mulheres representam 50% dos efetivos das indústrias e serviços marítimos e costeiros, mas os seus salários continuam a ser inferiores aos dos homens.

Se quisermos reequilibrar a trajetória da humanidade e fomentar soluções inovadoras para os nossos oceanos, temos que garantir a diversidade e a inclusão dos géneros a todos os níveis.

Os oceanos não representam apenas um campo de ação cada vez mais determinante para se alcançar a igualdade de género, representam também a construção de uma sociedade mais equitativa, em termos de género, pressupõem ainda a capacitação das mulheres e das raparigas para que possam ser protagonistas de uma mudança benéfica em prol dos oceanos, como tão bem referiu Sylvia Earle, que soube lutar incessantemente contra a discriminação para contribuir para as ciências oceânicas e para a sensibilização do público para os oceanos.

Integrar a igualdade de género em todos os níveis da Década para as Ciência Oceânica contribuirá para que, até 2030, as mulheres desempenhem, à semelhança dos homens, um papel preponderante nas ciências oceânicas e na gestão dos oceanos, para que possamos beneficiar dos oceanos de que precisamos para um futuro próspero, sustentável e seguro do ponto de vista ambiental.

 

Audrey Azoulay

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