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14 de março de 2020

“Nisaba, a mulher radiante de alegria / a verdadeira mulher, a escriba, a senhora que sabe tudo (…) Nisaba generosamente concedeu-lhe a haste de medição, a linha reluzente do agrimensor, o critério e os tabletes que conferem sabedoria.” [1]

Foi assim que, no início do segundo milénio, os escribas de Nippur descreveram o dom das matemáticas atribuído à deusa Nisaba, convertendo-a na figura feminina detentora de uma ciência em plena expansão.

Neste primeiro Dia Internacional das Matemáticas, celebramos uma história universal, que começou há mais de 20 000 anos em África, no período paleolítico, e que continua incessantemente desde então.

Para esta história contribuíram todos os grandes matemáticos, incluindo as grandes mulheres matemáticas. Ainda que, atualmente, sejam poucas as raparigas e mulheres que se dedicam às áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemáticas, este Dia representa uma oportunidade para as celebrarmos, desde Hipátia na antiguidade grega até às mulheres matemáticas laureadas com o nosso Prémio L’Oréal-UNESCO, como Ingrid Daubechies e Claire Voisin em 2019, ou ainda Maryam Mirzakhani, que faleceu em 2017. Vencedora do Prémio em 2014, Maryam Mirzakhani é hoje a única mulher matemática que recebeu uma medalha Fields, concedida a 60 matemáticos. Ao converter estas mulheres em modelos para as raparigas do mundo inteiro, a UNESCO luta contra os estereótipos e compromete-se a envidar esforços para que as matemáticas beneficiem de toda a energia necessária para cumprir o seu papel nas nossas sociedades.

As imagens da haste de medição e da linha do agrimensor recordam-nos, de facto, a eficácia real desta ciência que se desenvolveu entre os problemas mais concretos e a maior abstração.

As matemáticas, com as suas múltiplas aplicações técnicas, sustentam hoje em dia todas as áreas das nossas vidas. Com os algoritmos, estão no centro do desenvolvimento da Inteligência Artificial e da disrupção tecnológica. Por esse motivo, revestem uma importância crucial para o desenvolvimento dos países.

Através dos seus programas educativos, mas também dos seus centros regionais dedicados às matemáticas em Hanói e em Acra, das suas cátedras no Benim, Nigéria e Palestina, e dos programas na Ásia, África e América, do Centro Internacional das Matemáticas Puras e Aplicadas de Nice, a nossa Organização compromete-se diariamente a favor do acesso à educação e à investigação no domínio das matemáticas nos países em desenvolvimento.

Alguns países declararam recentemente que as matemáticas estão “em crise”, ao verificarem a aversão que os estudantes de ambos os sexos demonstram por esta matéria que consideram aborrecida. Este Dia tem precisamente como objetivo recordar o propósito das matemáticas, e em particular, como podem ser a base da inovação para o desenvolvimento sustentável. Temos que tomar consciência de que as matemáticas, incluindo os seus aspetos mais teóricos, nos dizem realmente respeito a todas e a todos.

Enquanto ferramenta privilegiada e indispensável para entender o mundo e construir o nosso futuro, as matemáticas são uma oferta de generosidade infinita: temos ainda tanto por explorar.

 

Tablete Lipit-Istar B, linhas 18-24, citadas em Christine Proust Tablettes Mathématiques de Nippur, Istambul, Instituto francês de estudos anatolianos-Georges Dumézil, 2007, p. 55. 

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