Ao longo dos sessenta anos de trabalho, a UNESCO tem sido um porta-estandarte do movimento científico humanista, tendo em conta os grandes princípios da ecologia, da igualdade e da ética na actividade científica, contribuindo deste modo e, de forma crucial, para colocar a ciência ao serviço do bem-estar da humanidade. No entanto, a ideia das ciências ao serviço da paz defendida pela Organização, nas primeiras décadas da sua existência, deu lugar à ideia da ciência ao serviço do desenvolvimento, a partir dos anos 60 e, no início dos anos 90, a UNESCO no seu Plano a Médio Prazo - 1990/1995 (http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000825/082539eb.pdf), salientava a importância da ciência e da tecnologia numa perspectiva de desenvolvimento sustentável, considerando que as transformações das sociedades humanas seriam cada vez mais influenciadas pela acção sinergética da educação, dos conhecimentos, da cultura e da comunicação.

Esta acção pressupõe a aquisição de uma cultura que incorpore a dimensão científica e se oriente por uma ética de solidariedade. Mas, para que tal possa acontecer, será necessário um alargamento do acesso aos conhecimentos e uma interacção mais estreita entre a comunidade científica e as sociedades em que esta se insere. Assim, a necessidade de comunicar ciência ultrapassa, nos nossos dias, a esfera científica, alargando-se num quadro social muito vasto. O cidadão comum deve possuir a compreensão mínima dos processos da ciência e da tecnologia e do seu impacto na sociedade.

A crescente especialização e consequente complexidade das ciências, dificultam a comunicação e divulgação das ciências, junto da sociedade em geral, incluindo os decisores políticos o que não tem permitido um maior reconhecimento do papel dos cientistas e tem contribuído para um certo distanciamento do público e dos políticos em relação à ciência. Perante estas dificuldades, a UNESCO considera que os cientistas devem tornar-se melhores comunicadores. Mas, aqui, não se trata apenas de passarem claramente mensagens precisas e pertinentes sobre ciências, trata-se também de prestar atenção à interacção entre a ciência e a sociedade e reconhecer as falhas e os perigos das actividades científicas. Nesse sentido, a sociedade deve proporcionar às pessoas o conhecimento e o desenvolvimento de competências e valores para poderem compreender e controlar o desenvolvimento científico e tecnológico, no âmbito de uma Educação para o Desenvolvimento Sustentável.

Tendo presente que desenvolvimento científico não significa de forma automática progresso humano, torna-se crucial que a educação e formação de cientistas seja encarada de forma permanente e que inclua as dimensões éticas, sociais e políticas da actividade científica. Dessa forma, é fundamental preparar os cidadãos para dominar as transformações tecnológicas e científicas que se apresentam tão rápidas como imprevisíveis.

Numa perspectiva de uma Educação para o Desenvolvimento Sustentável, os cientistas, os professores, os educadores, os decisores políticos, os representantes de ONG’s, os empresários e os media, entre outros actores, partilham a responsabilidade de velar no sentido de que um debate crítico e tão público quanto possível se possa estabelecer na sociedade, no âmbito das potencialidades das ciências e da sua divulgação. Deste modo poderão influenciar as decisões individuais e colectivas no que respeita às escolhas de soluções para os problemas e ameaças que o nosso mundo enfrenta e para as quais necessitamos do contributo das ciências. E estas, são assim, um empreendimento partilhado, que exige trabalho de equipa e em rede, tornando-se vital o estabelecimento de parcerias e a colaboração entre instituições científicas, academias, ONG’s e outros sectores e disciplinas.

Actualmente, a sociedade do conhecimento pode ser compreendida como a sociedade onde o conhecimento é o principal recurso para criação de riqueza, prosperidade e bem estar para a população, e este tem sido o eixo primordial das novas estratégias de crescimento e desenvolvimento sustentável que permitem melhorar a qualidade de vida da população. Aqui reside a importância dada à sociedade do conhecimento, que se caracteriza por um extraordinário desenvolvimento da ciência e da tecnologia sem precedentes na história e uma notável e constante produção e aplicação de conhecimentos, nos quais os recursos humanos e a qualificação passam a ser os mais decisivos para o desenvolvimento das sociedades, tendo adquirido uma importância central as estratégias educativas e a formação contínua.

Mas a sociedade do conhecimento enfrenta diversos problemas, como por exemplo, a forma como a sociedade é alimentada pelos meios de comunicação social; a rápida proliferação da informação, que não permite a reflexão e o espírito crítico e que entra em contradição com a ciência, já que esta necessita de tempo de amadurecimento, que consiste no tempo da cultura e da apropriação dos saberes; as desigualdades entre países e dentro de cada país. Uma das soluções para ultrapassar os referidos problemas, é criar estratégias de desenvolvimento sustentável, que evitem a concentração dos conhecimentos científicos e tecnológicos nas classes mais privilegiadas da sociedade e apenas nos países mais desenvolvidos, seguindo, assim, os princípios da Declaração sobre a Ciência e a Utilização do Saber Científico (Declaração de Budapeste, 1999, http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131550por.pdf), na qual se pode ler:

Nós, os participantes da Conferência Mundial sobre Ciência para o Século XXI: um Novo Compromisso, comprometemo-nos a envidar todos os esforços no sentido de promover o diálogo entre a comunidade científica e a sociedade, a remover toda e qualquer discriminação relativa à educação para a ciência e aos benefícios da ciência e a agir de forma ética e cooperativa, no âmbito de nossas responsabilidades específicas, para fortalecer a cultura científica e sua aplicação pacífica em todo o mundo e para promover o uso do conhecimento científico para o bem-estar de todas as populações, em prol de uma paz e de um desenvolvimento sustentáveis, levando em conta os princípios éticos e sociais ilustrados anteriormente (…).

Tendo em conta as experiências passadas e actuais e a constatação que os investimentos realizados no sector da educação, não têm tido os resultados esperados, a UNESCO também procura recomendar aos seus Estados Membros linhas de políticas de educação científica e tecnológica que poderão ter sucesso desde que o rigor e a continuidade se tornem factores permanentes. Para a Organização, o desenvolvimento de políticas de educação científica, visam sobretudo a inclusão social e a melhoria da qualidade da educação, de modo a contribuir para que crianças e jovens desenvolvam as competências, capacidades, atitudes e valores que lhes permitam aprender e continuar aprendendo, compreender, questionar, interagir, tomar decisões e transformar o mundo em que vivem. Desta forma, o ensino das ciências deve proporcionar conhecimentos científicos necessários para a tomada de decisões por cada cidadão, em questões que se prendem com o seu quotidiano e para que possam actuar como protagonistas de um desenvolvimento sustentável.



 
 
  • Partilhe